Parece que todos estão a fazer algo grandioso pelo mundo, menos eu...
Quando será a minha vez?
Você já teve essa sensação?Como se todas as pessoas estivessem seguindo com suas vidas, realizando seus projetos, conquistando metas, enquanto você se sente parado? Uma angústia silenciosa toma conta do corpo, amarga a boca e paralisa os movimentos. Não é uma tristeza comum. É uma espécie de prisão interna, difícil de explicar. Algo que te prende, que te faz refém de si, por não conseguir alcançar a própria liberdade.
Você tenta se mover, mas logo se perde de novo.
Todos ao redor parecem conquistar algo. E você? Observa.
Como um coadjuvante em uma história que não é sua, assistindo de longe os enredos dos outros ganharem forma e sentido. Seu protagonismo parece apagado, como se sua função fosse apenas servir de ponte para que os outros cheguem ao final.
Não há culpados. Nenhuma conquista alheia é menor por te deixar assim. Você continua sorrindo, feliz pelos outros, torcendo de verdade. Mas, no silêncio mais íntimo, se pergunta: quando será a minha vez?
Você se esforça, mas, por dentro, sente como se estivesse preso em um quarto branco, sem janelas e sem portas. Um lugar sem saída. Quer gritar, pede socorro, mas ninguém escuta. Sua força resiste. Mas até quando conseguirá segurar tudo?
Seus projetos são bons. Você sabe disso. Mas nunca parecem suficientes para serem iniciados. Suas histórias são únicas. Mas, de alguma forma, não parecem boas o bastante para serem concluídas. Você tenta. Recomeça. Se questiona onde estaria agora se ao menos uma dessas ideias tivesse ido adiante.
Vi uma publicação da Tatiane na timeline. Uma frase simples, mas que me atravessou de forma profunda. Ela escreveu:
“É muito frustrante saber que, se eu terminasse nem que fosse metade das coisas que comecei, provavelmente estaria em um lugar muito diferente na vida. Mas aqui estou, colecionando projetos inacabados e me sentindo péssima por isso.”
Ao ler isso, senti um gosto estranho na boca. Um amargo que me acompanha diariamente. Um pensamento simples que consome por dentro. A dor vem acompanhada de um sabor de incapacidade, mesmo sabendo que há um enorme potencial aqui dentro. Um potencial que, por alguma razão, ficou paralisado.
Talvez seja o cansaço dos dias. A sobrecarga mental. A enxurrada de informações que carregamos na palma da mão, matando a criatividade, entorpecendo a mente, silenciando a vontade constante de criar. Talvez seja medo. Talvez seja tudo isso ao mesmo tempo, como uma névoa que confunde as causas e os efeitos.
Confesso que tenho dificuldade em manter o foco. Penso demais. Me perco no final antes de construir o meio. Porque agora a pressa virou moda. A urgência virou regra. E a paciência parece coisa de outro tempo.
Então, sim, às vezes parece que todo mundo está fazendo algo grandioso, enquanto eu nado sozinha em um oceano sem margens, tentando me encontrar na imensidão de um mundo que muda diariamente. Um mundo que me muda diariamente. Talvez até me mate, pedaço por pedaço.
Talvez você se identifique com isso. E, se se identificar, eu lamento. De verdade.
Mas não há como ser mais direta do que admitir: estou colhendo meus fracassos como consequência de mim mesma. Eu me esforço, mas não o suficiente. E talvez nunca seja. Porque, se os de dentro da sua casa não te cobram, o mundo vai cobrar. E vai doer.
Você pode se perguntar o que tudo isso tem a ver com ser grandioso. A verdade é que ser grandioso é exatamente isso: resistência, entrega, constância. Quando você não é, acaba sendo engolido pela vida. E eu já me deixei ser engolida por tempo demais.
Confesso mais um segredo. Um daqueles que não se dizem, mas que ficam visíveis no olhar: estou cansada. Cansada de não dar finais às minhas histórias e aos meus projetos. Cansada de não ser grandiosa. Quero o protagonismo. Tenho mais sede disso do que de qualquer sentimento negativo que antes pairava sobre mim.
É por isso que continuo escrevendo, mesmo que muitas vezes a coerência não acompanhe minhas palavras.
Outro dia, enquanto tentava organizar meus pensamentos, lembrei das libélulas. Não sei exatamente por quê, mas elas surgiram como uma imagem viva na minha mente. Descobri que simbolizam nossa capacidade de superar tempos difíceis. Representam a leveza depois da tempestade. A possibilidade de seguir em frente, mesmo ferido. Elas nos lembram de reservar um tempo para nos reconectar com nossa própria força, coragem e felicidade.
As libélulas sempre me causaram um certo medo, e talvez ainda causem. Mas, ao mesmo tempo, tenho uma paixão por elas — parecida com aquela que muitas pessoas têm por borboletas. O significado que carregam é um peso bonito. Um símbolo de transformação. Elas me fazem sentir uma paz estranha, e isso me faz querer ser algo maior.
Ser grandioso é trabalho. É dar o máximo de si. É ir além. Mas também é lembrar que somos seres humanos com sentimentos e incertezas. Muitas pessoas estão fazendo algo grandioso no mundo, mas a minha cura virá de mim, para que eu também faça algo grandioso neste mundo.
Devemos nos esforçar para acreditar que vai dar certo. Juro que pensei muito antes de publicar este texto. Há um lado meu que quer guardá-lo, como fiz com tantos outros. Mas não posso. Mesmo que ele não me pareça excepcional, não posso permitir que mais um projeto morra no silêncio.
Somos escritores que escrevem para viver. E se começo a guardar tudo, isso também será uma forma de morrer aos poucos.
A conclusão mais clara deste texto é que ele deixou de ser poético. Tornou-se pessoal.
E se você leu até aqui, por favor, não deixe seus projetos perecerem. Tire-os da gaveta. Pode ser que algo extraordinário esteja esperando para ver a luz do dia. O mundo precisa deles.
Seja um texto, uma pintura, uma canção. Seja arte. Apenas mostre.
Se não parecerem bons o suficiente, tudo bem. Ideias são moldáveis. É possível recomeçar. Mas comece de algum lugar.
Se não souber por onde, respire fundo e apenas comece, mesmo que tudo pareça sem sentido.
O lugar mais rico do mundo são os cemitérios. Lá estão pessoas que se calaram, levando sua arte ao túmulo. Não seja uma delas.
Você será ouvido. E será grandioso.
(Isso também é um auto conselho.)
Dalia, salvei seu texto há um tempinho atrás pra ler e fico feliz de ter lido no momento certo... É curioso como os textos que mais relatamos pra postar são os mais poderosos ... esse seu passa uma mensagem poderosa. E ela foi poderosa pra mim nesse momento.. Obrigada 🤍
um sentimento nunca foi tão presente numa geração quanto esse!!!!