Lembranças de Gracie Amber
Último retrato — Nem todo amor dura para sempre, mas alguns duram o suficiente para nos transformar. Poema Bônus.
Pov. Gracie Amber
Lembro-me do sorriso dela.
Dos olhos castanhos, sempre meio úmidos, como se o mundo doesse um pouco — mas não o suficiente para pedir socorro.
Lembro-me da voz. Um tanto doce, mas não era doçura comum — era uma doçura que escondia silêncio.
Lembro-me de nós. Do último retrato.
Os cabelos pretos e ondulados dela pareciam pássaros. O vento? O vento os queria para si.
Estávamos no campo — um lugar tão verde que doía. Ela brilhava ali como algo fora do mundo. Tudo o mais era apenas... cenário.
Nosso amor de verão foi mais que bonito. Foi mágico. Inquietante. Como se o corpo dançasse por dentro. Como se borboletas pousassem na boca do estômago e rissem da minha vulnerabilidade.
Éramos duas mulheres jovens, com a alma na ponta da pele. Tentando entender o que era isso — paixão? Amor? Fogo? Que nome dar àquilo que arde sem nomear?
Vivemos como se cada segundo fosse o último. E foi.
Porque sabíamos — contos de fadas não sobrevivem no mundo real.
No entanto… há amores que se eternizam no corpo da memória. Amélie foi um desses.
Fecho os olhos e a vejo chegando à fazenda — um acampamento de férias para crianças e adolescentes. Eu tinha 18. Seria instrutora, como ela.
Ela era… boa. Boa de um jeito inteiro. Dedicada. Engraçada. A preferida das crianças. A minha também.
Ela me entendia sem me exigir explicações.
Conversávamos por horas, como quem anda sem rumo, mas sabe exatamente onde quer chegar.
E havia John. Que também gostava dela. E me contava isso com uma espécie de inocência cruel. Eu ouvia. Sorria. E doía. Achava que ele teria mais chances que eu.
Mas o mundo às vezes sussurra surpresas.
Numa noite qualquer — que depois se tornou tudo — Carl disse que Amélie e John formariam um belo casal.
Ela riu. E disse:
“Talvez. Se eu gostasse de garotos.”
Foi a primeira vez que meu coração se encheu de fogo.
Mais tarde, estávamos nós duas sob a lua. O céu estava indecente de estrelas. Ela me olhou como quem vê. E disse:
“Você é um pouco lerda.”
Pegou minha mão.
E disse que era a mim que queria.
Me beijou.
E então vieram as malditas borboletas.
E ficaram.
Em cada gesto, cada olhar, cada toque — durante todo o verão.
Foi a estação mais feliz da minha vida.
Mas foi um amor que nasceu para durar só na memória.
Não porque acabou — mas porque sabíamos que amar de longe seria matar.
Eu iria embora do país. Ela voltaria para a vida dela.
Preferimos a lembrança bonita à ruína de um amor por correspondência.
Sim, eu a perdi.
Mas, ao mesmo tempo, não.
Guardei Amélie em mim como se guarda uma oração antiga.
E sei — no fundo, sei —
Que ela também me guarda.
Nota da Autora
Nem todo amor precisa ser esquecido.
Há memórias que insistem em permanecer — não porque doem, mas porque foram lindas. Momentos da vida que nos deixam aquele gosto doce de querer mais.
É como se o coração e a mente sussurrassem: “volta”.
Volta para aquele instante, para aquele toque, para aquelas borboletas no estômago que nos faziam sentir vivos.
Às vezes, queremos voltar só para mudar uma palavra.
Outras vezes, somente para reviver a queimação de um amor que dava sentido até ao ar que respirávamos.
Porque nem sempre a vida é gentil com os apaixonados.
E, ainda assim, vale a pena.
Aproveite cada segundo.
As lembranças, Gracie, não vieram para te ferir.
Vieram para te lembrar que sim — você amou alguém.
Ainda que tenha sido num verão qualquer.
E se for para restar somente o último retrato,
que ele valha a eternidade.
Porque amar pode ser complexo, mas nunca amar… é vazio.
Às vezes, nos perguntamos se já amamos alguém.
A resposta é sim.
Nenhum amor que sentimos pelo outro é falso.
Mesmo que tenhamos nossos traumas, mesmo que alguns amores tenham nos ferido, magoado, deixado marcas difíceis.
Ainda assim… você amou.
Meu Amor É Teu / Poema Bônus
Te amar — é vasto, é céu aberto,
mas o que sinto vai mais perto
do que a alma pode alcançar,
é mais que verbo: é respirar.
Queria que ouvisse, num segundo,
meu coração, batendo o mundo,
quando você, sem esperar,
diz algo doce, só para amar.
Há tanta poesia neste chão,
mas nada tem tua precisão.
Teu nome — doce em minha boca —
É verso que o silêncio invoca.
E como eu quero, em desalinho,
tua boca desfeita em caminho
na minha — ardente, feita abrigo,
como quem ama sem perigo.
Sou poeta, sou teu amor.
E se o amor tem algum valor,
o meu é teu, por inteiro.
Escrevo o que é verdadeiro.
Você é paz, é cais, é lar.
É onde escolho ancorar.
Se isso é amor — então confesso:
Sou tua. E em ti, permaneço.
Dedicatória
Este poema se encaixa bem quando falamos sobre amar.
Eu o escrevi para a mulher por quem sou extremamente apaixonada.
Acredito que, se um dia — por ventura do mundo — ela não permanecer em minha vida, quero guardar o nosso amor. Para que, um dia, eu possa me lembrar… como Gracie.
Lembrar da forma mais bonita de amar, aquela que fez — e ainda faz — cada parte do meu coração estremecer ao saber que sou amada por ela.
Ultimamente, ela anda bem ocupada.
Mas deixo aqui registrado o quanto a amo.
(Se você estiver lendo isso… eu te amo.)
Ps. Termino esta Newsletter com uma das músicas mais românticas e também uma das minhas favoritas.
Oh, thinking about our younger years
There was only you and me
We were young and wild and free