Querida eu,
O tempo não para. Mas, àsvezes, sinto que o meu está correndo rápido demais — como se tivesse pressa de acabar. E eu? Eu sigo ficando para trás.
Quantos textos você escreveu e nunca mostrou a ninguém? Quantos poemas nasceram em papel e foram rasgados com o mesmo impulso que os gerou? Quantos livros repousam empoeirados na estante, esperando por uma atenção que você nunca consegue dar? O Kindle está ali, esquecido. Você também se sente assim, esquecida de si?
Você sempre teve ideias brilhantes demais, profundas demais. Mas, talvez por isso, guardou todas elas na gaveta da consciência. Trancadas. Como se não fossem dignas de existir. Jogou fora a chave — ou fingiu que perdeu.
E enquanto o tempo corre, o seu corre mais ainda. Parece uma ampulheta de vidro fino, onde a areia desaparece antes mesmo de cair. E você nem sabe se viverá o suficiente para deixar tudo isso registrado. Talvez morra jovem, talvez velha. Só sabe que há tanto por fazer… e tanto que já ficou pelo caminho.
É doloroso pensar que todas as obras que não viu coragem para mostrar irão com você, enterradas junto aos seus ossos — pó sobre pó.
O mundo não conhecerá a sua arte porque você achou que ela não era boa o bastante. Achou que você não era boa o bastante.
E mesmo quando escreve com o coração em chamas, essa voz cruel sussurra dentro:
"Talvez seja pouco. Talvez não valha a pena."
Quantas vezes ouvimos isso? Quantas vezes deixamos de mostrar ao mundo algo que poderia tocá-lo?
Poemas, músicas, histórias…
A nossa arte.
A arte que o mundo precisava para não ser tão duro, tão árido.
O tempo não para. Mas você precisa parar.
Parar para se lembrar de quem é.
Parar para escrever, sem medo.
Escrever por você.
Escrever porque é isso que te salva.
Escrever como um gesto de fé — de que um dia alguém, em algum lugar, vai se reconhecer nas suas palavras.
Esta é uma carta de perdão.
A todos os textos não escritos.
Aos que foram abandonados, descartados, ignorados.
Me desculpem. Vocês eram bons.
Mas eu achei que não era suficiente para merecê-los.
E talvez, agora, seja tempo de voltar.
De me olhar de frente e dizer:
Mesmo que o tempo não pare, eu posso escolher não fugir mais de mim.
Com amor e com dor,
Eu mesma.
Daqui em diante as criações todas vão ver a cara do sol❤️
você leu meus pensamentos, dalia. às vezes o que vem de dentro da gente é tão constrangedor... é difícil achar algum valor nisso. e tentar escapar do que há no âmago é como tentar escapar de um beco sem saída.